terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O Conto - 2ª Parte

Antes de continuar, queria apresentar nosso personagem: João Soares de Almeida Pereira da Silva. Ele ganhou esse nome do seu pai, Seu Edir, cruzeirense doente, pois nasceu no dia em que o Cruzeiro foi campeão da Taça Libertadores da América pela primeira vez: 30 de julho de 1976. O verdadeiro João Soares de Almeida Filho, o Joãzinho, fez de falta, aos 44 minutos do 2º tempo, o gol do título, levando a raposa à vitória por 3 a 2. Foi um lance genial; enquanto Nelinho e Palinha discutiam pra ver qual dos dois bateria a falta, o “Bailarino”, como era conhecido Joãozinho, veio e bateu no ângulo do goleiro, sem chances. Fico imaginando se ele perde o gol, o que fariam com ele? Como na vida não existe “se”, ele saiu consagrado desse jogo. No momento desse gol, a mulher do seu Edir estava dando a luz, enquanto ele escutava o jogo no boteco próximo à Casa de Saúde Santa Terezinha, na Tijuca, onde nascia seu rebento. Algumas pessoas dizem que Seu Edir gritava no momento do gol “Filha da puta... filha da puta... meu filho vai ter o nome desse viado”. Seu Edir nega. Se gritou mesmo ou não, nunca saberemos. Fato é que ele deu o nome do Joãozinho pro filho. E tentou fazer de tudo para que ele seguisse os passos do xará. Matriculou em dezenas de escolinhas de futebol, mas não tinha jeito. João era um perna de pau de mão cheia! Porém, sempre gostou muito de estudar. E era sempre um dos primeiros da turma nas provas finais. Talvez isso tenha ajudado o pai a não entrar num depressão, já que o filho poderia se sair doutor! A mãe fazia de tudo pro filho escolher entre a medicina e o direito. Era o grande sonho, já que ela e o marido nunca puderam estudar. Tanto um quanto o outro tinham apenas o ginasial, como se chamava antigamente o atual ensino fundamental. Mas seu Edir sempre gostou muito de trabalhar. Se mudou bem cedo para o Rio de Janeiro, com 18 anos, e começou como faxineiro numa gráfica. Depois passou a tipógrafo e, com muito trabalho e seriedade, rapidamente se tornou gerente. Não demorou muito pra montar sua gráfica e se casar com Dª. Lourdes, depois de 8 anos de noivado. João cresceu em meio a livros, panfletos políticos, jornais, e tudo que unisse papel e tinta. Sempre caía em suas mãos livros dos mais diversos gêneros e escritores. Em sua grande maioria, livros de soneto. Sua primeira poesia ele escreveu com 8 anos, que o levou a ganhar o concurso poético da 3ª série, da Escola Lobo da Cunha. Daí em diante danou a escrever poesia. Participou de vários concursos poéticos, e ganhou a maioria. E sempre se inscrevia escondido dos pais. Ele nutria o sonho de ser escritor, mas como confrontar o sonho de seus pais? Já se sentia culpado do pai não ter um filho jogador de futebol. E continuou escrevendo poesias até ler “Contos Fluminenses”, de Machado de Assis. Foi paixão a primeira linha. Encasquetou que seria contista, ninguém tirava isso de sua cabeça. Se inscreveu em Direito na UFRJ, e Letras na UERJ. Por muito tempo levou as duas faculdades, sempre escondendo dos pais o curso de Letras. Até quase entrar numa depressão e abandonar de vez o curso de Direito. Não queria estudar leis. Não era defendendo bandidos ou lidando com juízes que ele queria trabalhar. Arrumou um emprego de garçom numa boate aos fins de semana e foi dividir um apartamento com dois amigos. Por mais que no começo tenha rolado muitas festas regadas a maconha e álcool, João sempre foi muito aplicado nos seus estudos. Defendeu a monografia e logo ingressou num mestrado com bolsa, e sempre escrevendo seus contos. Já publicava alguns deles nos Globo e em outros jornais de circulação nacional. Juntou um dinheiro e comprou seu Fusca 68 “todo original”, fazia questão de falar. Porém, algo o afligia: não era capaz de amar plenamente alguém. Foi homem de diversas mulheres desde que ingressou na faculdade, mas namorar mesmo apenas 3 ou 4. E a última foi a que fez maior estrago no seu emocional, o levando a fazer terapia até hoje.


...continua

sábado, 16 de agosto de 2008

O Conto - 1ª Parte

Ficou alguns minutos se olhando no espelho. Achava que dessa forma se lembraria de como tinha ido parar ali. As únicas lembranças que tinha era de momentos antes de chegar lá. O show foi ótimo. Mas a dor de cabeça e o gosto de guarda-chuva na boca dificultavam sua concentração em lembrar o que tinha acontecido. Pior foi o momento em que acordou. Tenho que ir ver minha filha, dizia a linda portuguesa que tinha dormido ao seu lado. Vou escrever meu número na agenda do seu tele móvel. Será mesmo que ela escreveu? Como saber, se ele nem lembrava o nome dela. Só conseguiu abrir os olhos com a batida forte da porta. O barulho lembrou que a ressaca deixa uma dor de cabeça dos infernos. Ficou olhando para o teto e estranhou o declive. O cheiro forte de cigarro apagado o incomodava. Alguns segundos depois resolveu olhar o quarto e percebeu que estava num motel. A luz do Sol entrava pela janela que tinha uma das vistas mais bonita do Rio de Janeiro. O telefone tocou "a sua pernoite termina em 10 minutos, senhor. Vai querer prolongar?" perguntava a telefonista. Não. Foi uma água e uma coca. "E o maço de Free, né senhor?" Se a senhora ta dizendo, quem sou eu pra discutir? Apos falar isso, lembrou de ter ligado pra recepcionista e pedido um maço de cigarro. Free, Carlton ou Hollywood, perguntou a recepcionista. Ele repetiu a mesma pergunta para a mulher, que respondeu Free. "Daqui a pouco o garçom sobe com sua conta. Obrigada e boa tarde." Aliás, que motel é esse? Ela desligou antes mesmo de ouvir a pergunta final. Ficou mais um tempo deitado até seu estomago exigir que ele fosse ao banheiro vomitar. Enquanto colocava a bebida da noite anterior pra fora, percebeu que tinha feito isso antes e não lembrava. Ficou ali por mais um tempo, pra tentar expulsar tudo de seu estômago. Talvez assim a dor de cabeça diminuísse mais tarde. Tomou uma chuveirada e depois foi para frente do espelho. Pagou o garçom, pegou o ticket e desceu. Antes ainda ligou sem querer a luz de boate do quarto. O piscar da estroboscópica provocou uma lembrança rápida dele segurando a portuguesa no alto contra a parede. Se despediu da recepcionista que perguntou: "Sua acompanhante já foi?" Há muito tempo. "O Sr. vai deixar seu carro aí?" Ele nem lembrava que tinha saído de carro. Colocou as mãos no bolso e viu uma chave que não era sua. A chave era de um carro moderno, dessas com sensores eletrônicos. Bem diferente das chaves do seu fusca 68. A senhora sabe qual é a minha vaga, por favor? "B45." Saiu procurando a chave do fusca e não encontrava de forma alguma. Chegando na vaga indicada pela recepcionista, percebeu que as chaves eram mesmo daquele possante.

... continua